Pular para o conteúdo principal

2014 - Pior ano da história do transporte coletivo de Campo Grande

Campo Grande vive uma fase nebulosa em seu sistema de transporte coletivo, na iminência de um enorme aumento de tarifa, os serviços prestados pelo Consórcio Guaicurus vem piorando dia a dia. Com a prefeitura e a Agetran completamente omissas, quem manda no sistema da cidade são as empresas de ônibus, que possuem total liberdade para fazerem o que bem entendem.

Vamos alguns tópicos que marcaram o ano de 2014 e a administração Gilmar Olarte na área de transporte coletivo.


- Lenda do dinheiro do PAC Mobilidade.
O dinheiro do PAC mobilidade que o governo federal reservou para Campo Grande e até hoje não foi utilizado é a maior prova da ineficiência e falta de interesse da administração Gilmar Olarte em relação ao transporte coletivo. Uma verba pleiteada desde 2010 e que até agora a prefeitura foi incapaz de definir um projeto claro do que fazer com ela.  Sem apresentar um estudo decente e um bom projeto, a verba continua retida e em breve fará mais um aniversário.

Prefeito Gilmar Olarte e o diretor-presidente da Agetran Jean Saliba. Os dois principais responsáveis por um ano de completo abandono do transporte coletivo de Campo Grande.
Foto: Marlon Ganassin http://www.pmcg.ms.gov.br/cgnoticias/noticiaCompleta?id_not=25219

- Incapacidade da Agetran de fazer valer o contrato.
A licitação - de mentirinha - do transporte coletivo feita em 2012 fazia pouquíssimas exigências técnicas e as poucas exigências não vem sendo cumprida pelo Consórcio. A principal dela é um sistema para os usuários acompanharem por GPS os ônibus, sistema que já existe em diversas cidades do Brasil em estágios bastante avançados e que sequer começou a ser trabalhado em Campo Grande, com quase 2 anos de contrato em vigência.


- Drástica redução no número de articulados.
O ano de 2014 iniciou com a maior frota de veículos articulados da história da cidade, eram 50 veículos (mesmo número do final de 2012), apesar de 5 deles estarem rodando com o prazo limite de 12 anos de idade vencidos. Com vários veículos antigos, muitos deles foram quebrando e as empresas não mais os consertavam, indo reduzindo aos poucos o número de articulados disponíveis, até que em outubro oficializou-se a saída de 12 articulados com a chegada de 24 veículos convencionais. Hoje a cidade possui 38 veículos articulados, menor frota deles dos últimos 8 anos.

 Veículo convencional operando a linha 085, que junto com a linha 070 deixaram de receber articulados e tiveram redução na quantidade de lugares ofertados em determinados horários. Foto: Eric Moises.

- Redução na capacidade de carga em algumas das principais linhas da cidade.
Engana-se quem acha que o consórcio de fato trocou 1 articulados por 2 veículos convencionais. A linha 085 que rodava com 7 veículos articulados durante todo o horário comercial hoje roda a maior parte do dia com 9 veículos convencionais e 12 no horário de pico, ou seja, durante maior parte do dia a 085 opera agora com capacidade menor do que antes. A linha 070 também não mais recebe veículos articulados, apesar de ter aumentado o número de veículos fixos durante todo o dia e a quantidade de reforços no pico da manhã, hoje no pico da tarde roda com o mesmo número de carros que antigamente, 18 carros, sendo que antes havia de 5 articulados entre os 18 carros, hoje são 18 carros convencionais, mais redução na capacidade da linha. Lembrando que um veículo convencional lota e fica desconfortável com mais facilidade que um articulado.


- Propaganda enganosa
Todo mundo já viu os adesivos de Wi-Fi no BRTs e novos executivos da cidade. Tudo que estes ônibus possuem hoje são os adesivos mesmo. O wi-fi dos ônibus funcionou no começo do Consórcio Guaicurus nos 5 BRTs que chegaram na época, hoje não funciona em veículo nenhum. Tem veículos com adesivos que nunca teve um wi-fi operante. Os BRTs também se dizem climatizados, porém andam só com os climatizadores desligados para economizar combustível. Em várias cidades do Brasil a frota de veículos convencionais com ar-condicionado vem aumentando ano a ano, já em Campo Grande os usuários sequer tem o luxo de climatizadores.

Veículo executivo com adesivo de wi-fi que nunca funcionou.
Foto: Eric Moises

- Escala inadequada de ônibus, principalmente aos fins de semana.
Esta foi a marca registrada dos anos de 2011, 2012 e começo de 2013,  e está voltando com tudo em 2014, a escala de veículos leves em linhas troncais. Veículos leves, de 11m de comprimento, possuem menor capacidade, são indicados para linhas de baixa demanda ou que possuam um itinerário de ruas estreitas.  O Consórcio Guaicurus utiliza este veículos em linhas troncais, de altíssima demanda. Dia de semana é muito comum ver em linhas expressas, principalmente na 083 (T. Aero Rancho/ Expresso) e 052 (T. Júlio de Castilho/ Expresso).  Domingo a situação fica ainda pior, linhas como 080 (T. Aero Rancho/ T. Gen. Osório), 081 (T. Bandeirantes/ T. Nova Bahia), 087 (T. Guaicurus/ T. Gen. Osório) entre outras são praticamente padronizadas com veículos leves, ou seja, domingo o usuário já convive com uma drástica redução da frota, que acarreta em maiores intervalos das linhas e além disto são obrigados a conviver com alta lotação por conta de veículos inadequados.


- Serviço executivo abandonado.
O serviço executivo,  tão importante em uma cidade absurdamente quente como Campo Grande, continua completamente largado, com os mesmos e antigos problemas de sempre: quantidade insuficiente de veículos executivos para operar as linhas e linhas com intervalos absurdos. Linha executiva que operam somente com veículo convencional, linhas que nunca se sabe se virá veículo executivo ou convencional, linha com intervalo de 1:40 entre outros. A maior prova de que o Consórcio não pretende mudar isto veio com a chegada de 2 novos veículos executivos, com único objetivo de substituir 2 veículos que foram aposentados e só, sem chances de trazer qualquer melhoria a um serviço que deveria ser expandido ao invés de abandonado.

- Terminais abandonados.
Depois dos terminais viverem uma onda de depredação e vandalismo  o então prefeito Alcides Bernal fixou guardas municipais nos terminais da cidade. Agora com o prefeito Gilmar Olarte, os guardas municipais fazem rondas esporádicas no terminais. Os assaltos a ônibus migraram para assaltos a guichês dos terminais e aos passageiros que estão esperando seus coletivos, trazendo mais insegurança.


Plataforma do Terminal General Osório. Há anos que os terminais não passam por reformas e o dinheiro do PAC mobilidade continua travado por incompetência da prefeitura. Foto: Eric Moises

- Abandono no planejamento de novas linhas e reorganização do sistema.
O ano de 2013 trouxe um suspiro para quem vê a organização das linhas de Campo Grande como algo antigo e antiquado para a atual realidade da cidade. A criação de duas novas e ótimas linhas, 063 (T. Moreninhas/ T. Aero Rancho) e 308 (Caiobá/ T. Aero Rancho), trouxe esperanças para quem imaginava uma melhor reorganização e mais opções de deslocamento. 2014 foi um balde de água fria, não foi criado nada novo, no máximo uma linha para atender um bairro que não contava com nenhuma opção de ônibus, a linha 241 (Recanto do Cerrado/ Centro), ainda assim com uma operação extremamente reduzida. Novas vias e acessos a bairros são criados constantemente na cidade e muitas linhas ainda utilizam trajetos planejados na década de 90. Os novos terminais, primordiais para uma melhor racionalização do sistema, continuam travado devido a ineficiência da prefeitura com o dinheiro do PAC Mobilidade.


E  com todos estes problemas, para fechar o ano com chave de ouro, um grande aumento de tarifa está por vir. O aumento de tarifa é uma realidade, afinal os custos operacionais sempre irão aumentar com o tempo. Sou contra pautar a discussão de transporte coletivo em cima da tarifa, como costuma fazer a preguiçosa imprensa, entretanto, após um ano que foi marcado por protestos iniciados pelo aumento da tarifa de ônibus, chega a ser irônico tamanho aumento. Cadê a tal sistema de subsídios das gratuidades prometido pela prefeitura e vereadores? E o desconto do ISS que o antigo prefeito concedeu e o atual prefeito, ávido por gastos com comissionados, não quer mais conceder? Falta interesse, falta vontade política de fazer alguma coisa. E o sistema de transporte coletivo de Campo Grande caminha para forca, sem nenhum tipo de melhoria na qualidade dos serviços, a migração de usuários para o transporte particular é cada vez maior. A cidade cresce, a operação de ônibus se torna mais onerosa, a população cresce e o número de usuários pagantes de ônibus diminui, o que cada vez acarretará  em maiores aumentos da tarifa, até chegar um ponto que a operação se tornará completamente inviável. Campo Grande está no rumo certo para que isto aconteça.

Comentários

  1. Enquanto tiver pessoas necessitando pelo transporte coletivo, a tendência é piorar mesmo. Nós não dependemos de Prefeitura ou do Estado. Nós dependemos do nosso trabalho. Quanto menor poder do Estado mais liberdade para o indivíduo. Quanto mais poder do Estado mais corrupção e interferência em nossa vida. O Estado existe para me servir. Não o contrário. E isso só vai acontecer de fato se eu me esforçar e não depender do transporte público. É a chamada lei da demanda e oferta: quanto mais procura pelo produto ou serviço maior o preço, quanto menor procura, menor o preço. E se ninguém reclamar do serviço de concessão do transporte público, são as empresas que irão tomar as rédeas. Parabéns pela iniciativa do administrador do site. Matéria muito bem elaborada e de grande valor para a população. Pois o que mais as empresas querem e nos manter desinformados.

    ResponderExcluir
  2. Anônimo, quando a gente fala de transporte coletivo a menor procura acarreta maiores preços. O custo para operar um ônibus carregando 2 ou 20 passageiros é praticamente o mesmo, ou seja, quanto mais usuários, menor o custo que cada um deve pagar. A falta de qualidade nos serviços prestados ocasiona a fuga de pessoas para o transporte particular, o que torna a tarifa cada vez maior, e infelizmente a fuga para o transporte particular afeta e muito a qualidade de vida de uma cidade.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Análise dos dados da pesquisa Origem / Destino de Campo Grande - MS Parte 2

Na segunda parte das análises dos dados da pesquisa Origem / Destino encomendada pelo Consórcio Guaicurus, focaremos na origem destino propriamente dita, ou seja, de onde para onde as pessoas se movem na cidade. Essas informações seriam muito úteis para o replanejamento das linhas de ônibus da cidade, mas como dito nas análises anteriores, o relatório traz números com pouquíssimas análises em cima deles. Nesse texto tentamos simplificar ou pelo menos trabalhar esses números de forma diferente para obter mais informações.  Foto na formatação original de uma das tabelas presente na pesquisa e apresentada nessa análise. A  cidade foi dividida em nove regiões, numerada na pesquisa da seguinte forma:

Consórcio Guaicurus sob nova direção

Paulo Constantino, irmão de Nenê Constantino, é o novo diretor do Consórcio Guaicurus. Assumiu a direção do consórcio há poucas semanas, ficando no lugar do até então diretor João Rezende. Depois do escândalo da retirada dos articulados da Viação Cidade Morena , o antigo diretor ficou sob extrema pressão, que fez com que ele renunciasse e pedisse transferência para trabalhar internamente, na Assetur. Paulo Constantino, irmão de Nenê Constantino, dono da maior frota de ônibus do Brasil.

Sistema de cores do transporte de Campo Grande: pode enterrar.

Os mais saudosistas se lembram com carinho quando em 1992 foi inaugurado o SIT em Campo Grande, sistema integrado de transportes, com a construção dos terminais Bandeirantes e General Osório. Este sistema, baseado no de Curitiba, trouxe uma nova divisão de linhas e alterou a pintura dos ônibus, antes cada empresa tinha sua pintura, após a implementação deste sistema, a pintura foi padronizada com 4 cores, eram elas: Amarelo: Linhas convencionais, que fazem trajeto centro-bairro.  Vermelho: Linhas troncais, que fazem trajeto terminal-terminal passando pelo centro ou terminal-centro.  Verde: Linhas interbairros, que fazem trajeto terminal-terminal mas sem passar pelo centro.  Azuis: Linhas alimentadoras, fazem trajeto bairro-terminal.