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Artigo: Faixas exclusivas e Corredores de ônibus – Em busca de um transporte de qualidade.

Sistema de corredor de ônibus de Curitiba. Começaram a ser construído na década de 70 e até hoje é exemplo para todo o Brasil.

É praticamente consenso entre urbanistas que a melhora da qualidade do transporte público passa necessariamente pela criação de espaços exclusivos para este. No caso de ônibus, a ideia por trás é simples, os ônibus carregam diariamente muito mais gente que os carros, entretanto, ocupam bem menos espaços na via pública, e toda grande cidade, com seus longos congestionamentos, sabe do valor do espaço em uma via pública.


O objetivo de corredores de ônibus e faixa exclusiva é priorizar o maior número de pessoas, tornando a viagem destas mais rápidas. Com espaços exclusivos, ônibus não ficam presos em congestionamento, o que além de tornar a viagem mais rápida para o usuário, melhora a eficiência do sistema, já que o mesmo veículo conseguirá realizar um número maior de viagens, além de diminuir os custos operacionais. Com viagens mais rápidas e eficientes, os ônibus tornam-se até mais atrativos que o transporte individual, já sendo comum em algumas cidades, os deslocamentos de ônibus serem mais rápidos do que de carro. Ou seja, se o discurso é “passo a utilizar transporte coletivo no dia que o governo oferecer um serviço de qualidade”, isto obrigatoriamente depende de haver mais espaços exclusivos para ônibus na cidade.

Uma coisa importante ressaltar é a diferença entre corredores e faixas exclusivas: corredores costumam ser espaços realmente exclusivos para ônibus, em que outros tipos de veículos não possam e nem precisem invadi-los, além de muitas vezes apresentarem melhor infraestrutura para o passageiro, principalmente nos pontos de parada. Devida a complexidade, os corredores são mais caros e exigem diversas intervenções nas vias, mas costumam trazer maiores benefícios aos usuários. Já as faixas exclusivas exigem pouquíssimas intervenções e em muitos casos permite a invasão de outros veículos, como para realizar uma conversão por exemplo. As faixas também são de rápida implementação mas possuem menor eficiência. Em geral as faixas são recomendadas em vias estreitas ou que devido a outras limitações não tenham condições de receber corredores, além de servirem também para vias em que grande parte de movimento se concentra em horários específicos, em quanto os corredores devem se concentrar em vias maiores, mais largas e com grande fluxo durante maior parte do dia.

Trazendo um pouco a discussão para realidade de Campo Grande. Os congestionamentos já são comuns na cidade, apesar de ainda se concentrarem em pequenas faixas do horário de pico e em alguns pontos do centro ou congruência de vias que dão acesso aos bairros. A discussão sobre a implementação de faixas exclusiva está atrasada em vista da capacidade que a cidade tem de ir mais além, com soluções mais avançada do que o mero improviso que são as faixas exclusivas. Campo Grande possui diversas avenidas com as características perfeitas para receberem corredores: largas, que dão acesso a inúmeros bairros e com grande movimento o dia todo. Alguns exemplos são a Av. Gunter Hans, Av. Costal Silva/ Gury Marques, Av. Consul Assaf Trad entre outras. Se estivéssemos buscando uma solução revolucionária na cidade, estaríamos imaginando a cidade com corredores de ônibus. Mas a discussão de nossos gestores tem se limitado as faixas, que além de ser solução temporária com grandes chances de virar definitiva, não tem bons antecedentes na cidade. As faixas exclusivas já existentes em Campo Grande são ótimos exemplos de como as coisas não devem ser feitas. A seguir um pequeno panorama das faixas já existentes.

Faixa exclusiva da Av. Duque de Caxias, faixa sub-aproveitada e sem fiscalização.

Av. Duque de Caxias: Aparentemente a existência desta faixa foi um mero formalismo burocrático, já que muitos órgãos investidores para obras exigem que se faça espaço exclusivo para transporte público. Só isto explicaria o fato de existir faixa onde sequer existe linha de ônibus (entre a Avenida Júlio de Castilho e rua Terenos). Além disto, a faixa tem um fluxo muito pequeno de ônibus, abrangendo somente 3 linhas que operam integralmente e uma delas utilizando só parte da trajeto. Mesmo assim a faixa dá uma grande ajuda no período da manhã, quando o trânsito da avenida fica intenso, mas esbarra em outro grande problema: a total ausência de fiscalização. Sem fiscalização, as faixas tornam-se espaço predileto dos espertinhos e perde completamente sua funcionalidade. Para ser mais bem aproveitada, além de criar maneiras de fiscalizar, é necessário trazer mais linhas para via, sendo um alternativa, por exemplo, a uma linha Expressa do terminal Júlio de Castilho ao centro da cidade.

Trecho da faixa exclusiva de ônibus da Av. Duque de Caxias em que não há linhas de ônibus. Foto: Google Street View

Quadrilátero central: Rua Rui Barbosa, Maracajú, Calógeras 26 de Agosto.

Nestas vias trafegam número muito grande de linhas que dividem diversos pontos. Na Rui Barbosa, por exemplo, são 8 pontos de ônibus entre a 26 de Agosto e a Mato Grosso, sendo que as linhas que por lá trafegam, param somente em 1 ou 2 pontos. Como cada linha possui sua parada, os ônibus obrigatoriamente devem sair da faixa exclusiva para desviar de outro que esteja parado em um ponto diferente, sem contar que o próprio itinerário obriga que os ônibus peguem a pista da esquerda para fazer conversão. A permissão de conversão à direita para veículos particulares nestas vias faz com que as invasões sejam tão comuns, que a faixa perde completamente seu sentido em dar agilidade o tráfego de ônibus. No fim das contas, a faixa serve somente como um aviso para veículos particulares não estacionarem. Como solução, além de reduzir o número de linhas, possível de se fazer com novos terminais, deve-se limitar mais as invasões de carros, proibindo até mesmo que estes façam conversões à direita, problema facilmente contornável com uma simples volta na quadra.

 "Faixa exclusiva" da Rua 13 de Maio. Comprimento menor que de um ônibus.

Praça Ary Coelho: Além de extremamente estreitas, não abrangendo sequer a largura de um ônibus, não podemos chamar de faixa exclusiva trecho que ocupe somente uma quadra. Faixas são para agilizarem a viagem de um ônibus, coisa que nunca ocorrerá se esta tiver a extensão de uma única quadra.

Leitura recomendada: http://cidadesparapessoas.com/2013/12/10/resposta-aberta-a-revista-epoca-sao-paulo/

Excelente texto sobre as faixas exclusivas recentemente implantadas em São Paulo. Destaque para capa da revista Época, que com objetivo de mostrar um sistema que deu errado, mostra o maior acerto do sistema, via livre para o tráfego rápido para o maior número de pessoas que passam pela via.

Produzido por Eric Moises Martins.

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